quinta-feira, 19 de junho de 2008



É uma marca. Uma impressão. Horas depois do fato, permanecemos com um lembrete do acontecido. O problema é que é um lembrete para os outros, não para nós. Seja o bigode que sorveu um tanto do líquido, o nariz que se lambuzou no processo, o queixo que, de tanto esfregar, assumiu o odor característico da região - e porque não dizer - do ato. E não percebemos. A nós o cheiro não chega, só percebemos ao trazer uma mão ao rosto, enfim respirando o doce aroma que permanece. Como se ficássemos com o rosto dormente, uma boca que se recusa a se livrar da gravura olfatória da atividade. Um corpo tentando lembrar de outro corpo - e porque não dizer - de um ato. Água e tudo iria embora. Mas não nos limpamos logo após. Dificilmente pensamos logo após. Não há nenhum de nós que não queira permanecer nesse após, portanto quando precisamos parar, é porque precisamos correr. Levantar, manter aparências, dizer olás educados, beijinhos de adeus, apertos de mão, sinais escondidos de "te ligo", saída pela esquerda. É assim que algumas marcam território, é assim que outras descobrem que um de nós temos dona, assim que sem querer uma sogra descobre a depravação de sua tão pura filha, assim que chegamos a um espelho - quem sabe num elevador - e percebemos que a danada estava menstruada e não disse nada.

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